Ilustração original por Igor Morski
É fundamental a compreensão de que a clínica psicanalítica define-se amoral por compreender a si própria como uma teoria dos sintomas inerentes à condição de sujeitos tecidos de linguagem que somos, compreendendo que valores morais assim como seus opostos na esfera da imoralidade, seriam formações subjetivas oriundas de idealizações culturais e consequentemente também reflexos dos mesmos sintomas sobre os quais a psicanálise propõe-se a atuar. Em suma, a amoralidade psicanalítica surge da necessidade de atuação sobre o "sujeito in natura", em um constante esforço para manter-se "alheia" ao emaranhado de fantasias que envolve e tece as bases de nossa civilização. Se um suposto setting analítico ergue-se tendo como base os valores culturais pessoais do também suposto analista, tem-se de imediato a dissolução das possibilidades da prática psicanalítica em si, pela anulação das condições de manutenção do manejo transferencial em função de propiciar a auto ressiginificaçao do paciente, passando o "não analista" a ser mero "aconselhador" e o paciente, a conquistar o gozo sem precedentes de uma gigantesca fonte de autorizações para possíveis repetições e consequentemente consolidações de seus sintomas em um processo que estaria a rebatizar suas formas de sofrer travestindo-as em prol dessa nova forma de gozar ante a cada "aprovação" provinda do novo "Senhor de seu Eu", o "tão desejado outro" agora também travestido, porém sob a alcunha de "analista".
Por 𝗗𝗮𝗻𝗶𝗲𝗹 𝗦
Para 𝙼𝚒𝚗𝚑𝚊𝚃𝚎𝚛𝚊𝚙𝚒𝚊.𝚘𝚛𝚐